quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Vicky Cristina Barcelona



Vicky: quase uma histérica saída dos casos clínicos descritos por Freud. Um pouco atualizada, é verdade. Mas, mesmo sendo um filme bem diferente do que costumam ser os filmes de Woody Allen - com algumas marcas inconfundíves, é claro - ele não poderia perder a oportunidade de inserir personagens que mais parecem casos clássicos da psicanálise, né? Vicky é contida, acaba cedendo à tentação, mortifica-se com a culpa, fica doida de vontade de tentar de novo e acaba escolhendo a vida cômoda e possivelmente frustrante.



Cristina: bom, é a Scarlet Johanson! E ainda por cima de espírito quase livre, aventureira, disposta a experimentar. E experimenta. E com Penélope Cruz e Javier Bardem. O filme nem precisava ter roteiro. Podia ser pobrinho mesmo: criar uma situação qualquer para que os três se encontrassem e se pegassem. O resto pouco importa. Ver os três em cena é impressionante, provocante, excitante...

Barcelona: ...e como não fosse suficiente, tudo isso acontece em Barcelona. Um delírio maravilhoso. A cidade é parte importantíssima no filme e se oferece linda e colorida aos olhos. Não dá pra imaginar lugar melhor no mundo pro romance que acontece no filme. É cenário perfeito e apaixonante, com seus sons, sabores, cheiros que nos são insinuados a todo instante. E com suas formas inusitadas, curvilíneas, ao mesmo tempo antigas e modernas.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Eu queria o paraíso

No meu cotidiano, de um modo geral, a fé é algo que não me faz falta. Digo a fé religiosa, porque fé tenho de sobra.
Passo ilesa por qualquer discussão sobre religião. Em geral digo apenas que não tenho nenhuma e muitas vezes isso basta. Não é todo mundo que tem coragem de perguntar diretamente: acredita em Deus? Confesso que diante desta pergunta, nem sempre sou sincera. Muitas vezes prefiro dizer apenas que sim e continuar ouvindo o sermão. É raro o caso em que considero que vale a pena responder a verdade. Quase sempre responder "não", gera uma palestra repreensiva, cheia de lições e moral cristã. Como sou partidária de evitar a fadiga, prefiro dizer que sim, acredito numa força superior, criadora do universo. Só não digo que costuma chamá-la de natureza, ciência... e não de Deus.
Bom, mas o que me faz pensar nisso hoje é que ontem vivi um daqueles momentos em que a fé religiosa, a crença no paraíso e numa vida eterna de alegria e júbilo, me fez muita falta. Um daqueles momentos em que enfrentamos a morte.
Morreu Raquel, uma amiga. Trinta e pouco anos, tinha comprado um apartamento com o namorado e estavam morando juntos há poucos meses. Iniciando planos, projetos. Sem mais começa a sentir sintomas de gastrite, muitos exames e menos de três semanas depois, descobre que tem um câncer no fígado e outros órgãos. Marca a cirurgia para daí a uma semana. Quase nada pode ser feito, tamanha a extensão dos danos. Nem a quimio daria resultados eficientes e só serviria para prolongar um pouco sua vida. Menos de 72h após a cirurgia ela não aguentou.
Pra mim foi uma vida nova, cheia de projetos e no início de muitas coisas que foi interrompida bruscamente, de uma forma dura, cruel. Para muitos outros foi o plano de Deus, foi a passagem para um lugar melhor.
Me sobra a dor da perda e a inveja de quem pode consolar-se um pouco com esses pensamentos.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Bom demais pra ser verdade

Imagine você sentado em seu sofá numa segunda-feira, meio desanimado com o início de mais uma semana de cão e já sonhando com o carnaval, vendo as habituais tragédias anunciadas por um telejornal. De repente, enquanto o apresentador termina uma notícia sobre mais um ataque em Gaza, aparece na tela: Morre George Bush.
Não seria um dos momentos mais felizes da sua vida? Não salvaria sua desanimada segunda-feira?
Já pensando em comemorar, sambar em cima da mesa, chamar os amigos pra uma cerveja, gritar pela janela, você descobre que tudo não passou de um engano de um técnico. A sua imensa alegria, que durou segundos, foi causada por alguém que apertou um botão errado.
Foi isso o que aconteceu na África do Sul. O letreiro apareceu no canal ETV News e foi retirado segundos depois. Era um letreiro de teste e não era para ser mostrado ao público. Li no Terra.
Só nos resta torcer pra que quem escreveu essas palavras para um letreiro de testes tenha poderes mediúnicos, videntes, proféticos...

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Qué decir?

Desde que vi pela tv, com um nó na garganta, as cenas da libertação de Sigifredo López na semana passada, tenho pensado em postar algo sobre isso.
A cada vez que tento escrever, me volta a inquietação, embaralham os pensamentos e faltam palavras. Que dizer sobre o absurdo das FARC - entre os tantos outros absurdos deste mundo? O que dizer da grandeza desse homem, Sigifredo López, refém por 7 anos? E o que dizer dessa mulher, Piedad Córdoba, e sua luta, apesar de tudo?
Hoje um paciente me disse que ações de homens como esses das FARC o faz desacreditar do mundo. E pergunta como podemos conviver num mundo onde há FARCs...
Lembro que neste mundo há também Sigifredos. E neste mundo há também Piedades.