quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Por onde andam as Amelies?!


Toca meu celular. Um número que não conheço.
- Alô.
- Alô, Pollyanna?
- Sim.
- Oi, aqui é a fulana. Nós fizemos pós juntas...
- Ah, sim! Como você está?
- Tudo bem. Desculpa te incomodar, mas é que tava precisando de uma ajuda...
- Claro!
...
...
...
- Oi, fulana! Em que posso te ajudar?
- Achei que você estivesse sendo irônica e já esperava você dizer que tá muito ocupada.
- Mas eu nem sei do que se trata ainda.
- É que você é a quinta pessoa que ligo.

Não é impressionante que alguém se surpreenda e fique sem reação ante a disponibilidade e presteza de uma conhecida a quem se pede ajuda? Não é nem que eu tenha me oferecido. Ela pediu, eu me dispus a ouvir. Nada mais do que isso.
Não é impressionante que outras quatro pessoas, com quem ela passou longos sábados por um ano e meio, tenham se recusado a pelo menos ouvir do quê ela precisava?
Disponibilidade é algo cada vez mais escasso. Não apenas em relação a estranhos na rua, por medo, por exemplo. Não apenas em relação a conhecidos, com quem não convivemos muito, por desisnteresse ou falta de envolvimento. Mesmo entre amigos tem sido raro ver dedicação de tempo e energia em prol do bem-estar alheio, de forma meramente altruísta.
O pior disso tudo é que a gente tem se acostumado a viver assim. É estranho quando alguém pára no cruzamento para o pedestre, ou segura a porta do elevador para desconhecidos. É desconfortável ligar para um amigo e pedir ajuda, conselho ou orientação. E é cada vez menos comum receber pedidos de ajuda.
Fico muito brava quando alguém me conta de uma situação difícil por que passou e que eu podia ter amenizado de alguma forma. Quase sempre a pessoa se desculpa dizendo "não se preocupe, está tudo bem agora". Amigos não são só pra quando está tudo bem. Os humanos somos seres essencialmente sociais e vivemos em comunidade não é por acaso.
Quando cuidar uns dos outros e estar presente uns para os outros deixou de ser importante? Quando a gentileza deixou de ser algo natural e passou a ser um gesto digno de admiração e gratidão? Não recebi o memorando.
As pessoas deviam ver, ou rever, este filme:


quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Get up, stand up!

Há algum tempo conversava com amigos sobre nossas preocupações com o jovem médio. Nossa discussão circunscrevia-se ao gosto musical e, parece-me hoje, ao jovem brasileiro. Não me lembro de termos mencionado a juventude mundial ou a juventude brasileira mas, pensando nos exemplos que nos preocupavam, todos remetem à audiência de Malhação, fãs de Restart e novelinhas da Disney, ouvintes de Justin Bibier... Enfim, jovens que conhecemos, convivemos e vemos crescer.
Pelo twitter, tenho tido acesso a informações acerca de assuntos que me interessam ou que me são necessários para a empresa a que me propus há algum tempo: ingressar no Instituto Rio Branco. Informações às quais acessava com maior dificuldade, mais esforço para buscá-las e que hoje, simplesmente adicionando o twitter de instituições e jornais à minha timeline, estão disponíveis e a apenas um clique do mouse. 
E o que tem uma coisa a ver com a outra? Bem, da mesma forma que tais informações estão disponíveis a mim, também estão a quem quer que tenha uma conta no twitter, no Facebook, que é uma maioria expressiva de... Jovens. 
O atuais eventos no Oriente Médio, nomeadamente no Egito, mostram a força potencial de tais mídias como ferramentas de mobilização social, de informação, de comunicação e de conscientização política. 
Muitas das instituições que se propõem a fazer do mundo um lugar melhor e mais justo já perceberam isso e têm utilizado tais ferramentas para espalhar suas ideias e recrutar os jovens que, em última instância, são quem pode tomar as rédeas e conduzir os rumos do planeta. São, além de tudo, quem pode trazer novas ideias e propor novas ações num mundo completamente novo e em constante mudança, o qual nós adultos, por esforçados e interessados que sejamos, não conseguimos apreender totalmente. Mesmo com contas no Twitter, Facebook, Skype, MySpace ou qualquer outra ferramenta à disposição na rede mundial.
Nós adultos tentamos entender como funcionam e como utilizar os inventos desses jovens, nos admiramos com o fato de uma revolução começar pelo twitter, arrastando milhares de jovens para a rua e, os mais espertos de nós, tentam ainda pensar como utilizar isso de forma produtiva e positiva. Porque isso só a maturidade nos dá.
Não conheço jovens ao redor do mundo. Convivo apenas com jovens brasileiros. E esses vejo adicionarem às suas timelines artitsta famosos, twitters de humor, fakes e afins. Espero que isso não seja uma amostra do que acontece no mundo e que a informação que realmente possa fazer diferença não chegue apenas terceirizada, reencaminhada por um de nós, adultos. Os levantes no O.M. me dão esperança.
Foi pelo twitter que soube do concurso de redação e vídeo do Banco Mundial, cujo tema é migração de jovens. Para participar é preciso ter entre 18 e 25 anos. O tema da migração vem preocupando diversas instituições internacionais já que o fenômeno vem ocorrendo de forma cada vez mais intensa e com motivações cada vez mais variadas - pobreza, melhores condições de trabalho, guerras e guerrilhas, política e religião, fenômenos e catástrofes naturais.
Ainda pelo twitter, soube da Cúpula da Juventude, organizada pela Anistia Internacional, que terá lugar em Berkley, na Califórnia, precedendo a reunião anual da organização. 
Esses são apenas dois exemplos de como organizações de extrema relevância para o destino da humanidade estão interessadas em ouvir os jovens e, mais do que isso, em engajá-los em sua causa. Precisamos todos que os jovens se interessem e queiram construir o mundo no qual atuarão, criarão suas famílias e viverão suas vidas. Como será esse mundo depende, e sempre dependeu, mais dos jovens do que dos adultos.
Não sei se num nível global esse esforço das instituições tem surtido efeito. Por aqui, no entanto, vejo muito pouco. E isso me preocupa. Será que o que nossos pais passaram durante a ditadura e o que nós mesmos passamos (sem precisar tanta doação e sacrifício, é verdade) durante a "década perdida" acabou por criar um ambiente propício à acomodação e ao desinteresse? Vivemos num país democrático, graças a nossos pais. Vivemos num país de moeda forte e certa estabilidade política e econômica, e de franco crescimento social, graças a nós mesmos. Seria isso motivo suficiente para os jovens pensarem que não têm nada a fazer? Estivemos tão envolvidos em nossa própria dura realidade e tão voltados a curar nossas próprias feridas, que  criamos uma geração incapaz de enxergar o mundo além das fronteiras, a não ser como objeto de desejo e cobiça para férias e intercâmbio?
Esses jovens cresceram ganhando celular aos cinco anos, discutindo sobre os lançamentos do Playstation com o filho da faxineira, comparando os aplicativos do iphone com o motorista. O jovem sai cedo da favela para trabalhar de empacotador no supermercado e depois ir ao cursinho pra tentar vestibular no fim do ano. E vai ouvindo seu ipod (ou similar) no ônibus. É verdadeiramente uma vida muito diferente da que tivemos nós que temos mais de trinta. Quem de nós não se lembra de ter de ajudar a avó a entender mais uma troca de moeda? Ou de enfrentar uma fila com o pai pra tentar comprar carne, que havia desaparecido do mercado? Ou ainda que não conhece alguém que faliu com o confisco de sua poupança?
Tudo tem efeitos colaterais, é verdade. Mas espero que o custo do desenvolvimento que finalmente estamos conseguindo (ainda incipiente, lembremos!) não seja a alienação e a indiferença. Espero que os jovens brasileiros se lembrem de que ainda há o sertão nordestino, o Haiti, o Egito, as duas Coreias, Tuvalu. E que nem tudo é Copa 2014, Olimpíada 2016 e pré-sal. Espero que adicionem a Anistia Internacional, a ONU, o Banco Mundial, TED e outros em suas timelines, ainda que o Pedreiro Online e a Real Morte sejam mais divertidos, e que o BBB não faça pensar.

Why so serious?

Pensando no tom de recrutamento e de apelo da convocação da Anistia Internacional linkada aí acima, lembrei-me desse video deveras divertido que me foi apresentado por amigos há muito tempo atrás:


Em tempo: Acabo de ler essa matéria no Observatório da Imprensa. Espero que sirva de inspiração.

sábado, fevereiro 05, 2011

Coisas extraordinárias

Há alguns dias, o Mau, my awesome friend, publicou no FB sobre o livro de Neil Pasricha "The book of awesome", derivado de seu blog "1000 awesome things". Ele mencionou no post que o autor tinha ministrado uma palestra no TED, então fui procurar o vídeo (já com legenda em português, é só selecionar) para assistir. Desde então tenho pensado numa cena belíssima do seriado (já extinto) Ed, em que o protagonista pede sua namorada em casamento. Eles são amigos de infância, cresceram jutos, foram namorados na adolescência, mas Ed deixou a pequena cidade onde viviam e foi viver na metrópole. Ed faliu e acabou voltando pra sua cidade natal, onde passou a administrar um boliche e tratou de reconquistar seu antigo e inesquecível amor.
Historinha clichê e sem grança,certo? Mas não era o argumento da série que a tornava interessante, mas os personagens. Pessoas adoráveis, divertidas, comuns. E havia cenas lindas, com as quais qualquer um podia se identificar. A minha favorita me foi enviada pela Fêfa há muito tempo, quando eu já nem me lembrava dessa série mais. Mas ela é definitivamente a mais bela cena de pedido de casamento da ficção... Incluindo tv, cinema, literatura, música...
Assistam e derretam-se. E, guys, inspirem-se, já que essa função costuma ser de vocês! O "sim" é garantido, mesmo que não seja um pedido de casamento, mas de desculpas, ou apenas uma declaração. Essas duas últimas opções servem pras meninas também.


Resolvi trabalhar eu mesma numa listinha das minhas coisas favoritas. De novo. Havia feito um post com minhas 25 coisas favoritas em janeiro de 2008, quando a Fêfa me enviou esse mesmo vídeo. Mas na ocasião não as listei numa ordem particular. Foi divertido, depois de fazer a lista atual, comparar com a antiga. Muitas coisas permanecem. 
Intencionalmente excluí coisas específicas com pessoas específicas, uma vez que tais coisas costumam ser grandiosas, e eu queria listar apenas coisas que podem ser simples, triviais, que se tornam extraordinárias sob nosso olhar subjetivo.

Lá vai:

1 - Ouvir pela primeira vez uma música excelente;
2 - Abraço;
3 - Viajar;
4 - Sexo devagar, sem pressa;
5 - Dançar até cansar;
6 - Beijar ao som de Portishead;
7 - Descobrir um autor que não conhecia e apaixonar-me por sua obra;
8 - Ir ao show de uma banda que adoro;
9 - Ler um autor de que gosto e ter aquela sensação de "é isso mesmo!";
10 - Banho demorado e quente, cheio de óleos, e creminhos, e sabonetes de toda sorte;
11 - Estrada com playlist;
12 - Experimentar (e gostar) uma comida nova;
13 - Tomar uma Coca muito gelada quando estou com muito calor;
14 - Ficar de preguiça debaixo do edredon;
15 - Chocolate na TPM;
16 - Playlist com minhas músicas favoritas;
17 - Chorar de rir;
18 - Supresas;
19 - Tulipas vermelhas;
20 - Vestidinhos curtos, leves, confortáveis. Preferencialmente verdes ou azuis;
21 - A vista das montanhas;
22 - Lingerie nova e linda que não machuca e não incomoda;
23 - Andar descalça;
24 - Que me façam sorrir quando estou de mau humor;
25 - Conhecer um novo sabor de chá.

E você... Tem sua lista?

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Massive Attack - The concert



Até hoje não havia postado sobre o show do Massive Attack, que ocorreu em novembro último. Queria falar dele com distanciamento, sem aquela empolgação pós-show que obnubila o julgamento. Havia feito uma imersão na obra da dupla no período anterior ao show, depois de muito tempo sem ouvi-los, e estava sob forte influência do som e das letras à época.
Hoje, pensando em perspectiva, tendo já ouvido muitas outras coisas novas e velhas, posso afirmar que minhas impressões são exatamente as mesmas do dia seguinte ao show. E são todas muito boas.
O Massive Attack é uma dupla inglesa com uma grande entourage de músicos e cantores. Todos excelentes e muito sintonizados entre si e com a dupla. Parece uma banda veterana, com anos de carreira conjunta. A qualidade das músicas não me surpreendeu, pois já as conhecia. Mas a performance, sim, surpreendeu de forma muito positiva.
Começou tranquila, com uma alternância entre músicas antigas e do álbum recém lançado, com um belo painel de led ao fundo do palco. Um show que poderia ser assistido sentado, apreciando o som e o visual simples. Muito diferente de um show de rock. O som é cheio, toma conta do lugar, prevalece o grave, os cantores não são mensageiro de nada, a voz é mais um instrumento. E todos os sons são complementares, formando uma unidade impossível numa música de rock, em que podemos gostar muito do solo da guitarra, mas sequer perceber o baixo, por exemplo.
Pela metade do show, ele começa a ficar mais empolgante e estimulante, a guitarra ganha muito espaço no palco e as luzes ficam alucinantes. O painel de led vira uma atração em si, vira protagonista do qual é impossível tirar os olhos. O show todo ganha um ar onírico. A versão ao vivo de cada música é muito, muito mais pujante do que a versão de estúdio. O show torna-se, então, uma experiência só possível ali, diante do palco. Pois a música não é a que você escuta no disco, o visual hipnotiza e transmite mensagens que levam o público a sorrir, a gritar, a sentir um nó na garganta ou um soco no estômago. Enquanto dança e canta, todo mundo lê atentamente o que aparece no painel, em português - interação calculada e garantida.
Uma obra completa, uma experiência áudio-visual, não uma reprodução das faixas dos álbuns. Um dos melhores shows a que já fui, e um dos poucos que é tudo o que um show - de música em geral, não de rock - deve ser.

Essa música do vídeo aí acima - Safe from harm - é uma das que ganha uma versão ao vivo muito mais interessante. Eu adoro essa letra. Adoro a passionalidade e parcialidade, e o tom levemente belicoso, hehehe.

But if you hurt what's mine
I'll sure as hell retaliate

You can free the world you can free my mind
Just as long as my baby's safe from harm tonight