No meu cotidiano, de um modo geral, a fé é algo que não me faz falta. Digo a fé religiosa, porque fé tenho de sobra.
Passo ilesa por qualquer discussão sobre religião. Em geral digo apenas que não tenho nenhuma e muitas vezes isso basta. Não é todo mundo que tem coragem de perguntar diretamente: acredita em Deus? Confesso que diante desta pergunta, nem sempre sou sincera. Muitas vezes prefiro dizer apenas que sim e continuar ouvindo o sermão. É raro o caso em que considero que vale a pena responder a verdade. Quase sempre responder "não", gera uma palestra repreensiva, cheia de lições e moral cristã. Como sou partidária de evitar a fadiga, prefiro dizer que sim, acredito numa força superior, criadora do universo. Só não digo que costuma chamá-la de natureza, ciência... e não de Deus.
Bom, mas o que me faz pensar nisso hoje é que ontem vivi um daqueles momentos em que a fé religiosa, a crença no paraíso e numa vida eterna de alegria e júbilo, me fez muita falta. Um daqueles momentos em que enfrentamos a morte.
Morreu Raquel, uma amiga. Trinta e pouco anos, tinha comprado um apartamento com o namorado e estavam morando juntos há poucos meses. Iniciando planos, projetos. Sem mais começa a sentir sintomas de gastrite, muitos exames e menos de três semanas depois, descobre que tem um câncer no fígado e outros órgãos. Marca a cirurgia para daí a uma semana. Quase nada pode ser feito, tamanha a extensão dos danos. Nem a quimio daria resultados eficientes e só serviria para prolongar um pouco sua vida. Menos de 72h após a cirurgia ela não aguentou.
Pra mim foi uma vida nova, cheia de projetos e no início de muitas coisas que foi interrompida bruscamente, de uma forma dura, cruel. Para muitos outros foi o plano de Deus, foi a passagem para um lugar melhor.
Me sobra a dor da perda e a inveja de quem pode consolar-se um pouco com esses pensamentos.