É algo engraçado o comportamento das pessoas nos velórios. Há um certo prazer mórbido nelas. Muitos dos que estão ali, vão por causa de um dos vivos, dos remanescentes, e não do morto.
Eu mesma já fui a velórios de pessoas que sequer cheguei a conhecer, mas como conhecia alguém que sofreu a perda, comparecia para prestar apoio. E é claro que a presença de cada um ali, é mesmo mais importante para os que sofrem com a súbita ausência de alguém amado, do que para o que se foi e já não dá notícia de nada.
Quando estou num velório, não quero saber como a pessoa morreu, quanto isso demorou, como foi a doença, o acidente ou o que quer que seja que tenha causado a morte. Não vejo como essas conversas possam confortar alguém que sofreu a perda.
No entanto, são esses os assuntos que predominam nesses eventos. E o pior: as perguntas são, quase sempre, dirigidas a alguém que está sofrendo naquele momento.
"Como ele morreu?", "sofreu muito?", "quantos anos tinha?", "tinha filhos, marido, trabalhava?". É uma curiosodade macabra. Por que isso pode, de alguma forma, interessar ou fazer diferença prá alguém que, se tem tais dúvidas, seguramente não conhecia muito bem o falecido?
Depois dizem que ninguém gosta de velório. Mas eles estão sempre cheios. E nem sempre de parentes e amigos.
*Tô ouvindo: El Scorcho - Weezer*
Um comentário:
Polly, infelizmente tenho ido a velórios de pessoas queridas nos últimos 3 anos, com uma frequência dolorosa. E fico putíssimo com essa curiosidade mórbida. Talvez seja simples falta de noção, mas... Ter que "reviver" a dor é foda. Quando meu pai faleceu, eu simplesmente dizia: "ficou doente, não é hora de falar nisso." E fiz minha mãe fazer o mesmo. Saco.
Gostei muito deste post. Todos deveriam lê-lo.
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