A repercussão do acordo assinado pelo Irã sob intermediação do Brasil e da Turquia na imprensa nacional foi maior do que eu imaginava. Política Internacional não costumava ser pauta importante nos jornais. Pelo menos até nosso presidente ser mencionado repetidamente na imprensa internacional, receber prêmios, elogios de chefes de Estado; até nosso país merecer matérias especiais em publicações como The Economist ou ser colocado ao lado de outros países emergentes em grupos como os BRICs por renomado economista - estrangeiro, claro!
Entendo que tenhamos extensa história de problemas internos, e que questões internacionais parecem muito distantes para a maioria da população brasileira.
De uns tempos pra cá, no entanto, a posição do Brasil no cenário internacional vem recebendo a atenção da imprensa e o interesse da população, digamos, "mais informada". Discute-se a postura brasileira em almoços familiares, em mesas de botecos frequentados por "meio intelectuais, meio de esquerda", em blogs, no twitter, na Veja, no Jornal Nacional. E é preciso destacar: com a mesma paixão com que se discute futebol, candidatos à presidência da República e a corrupção na política.
Há motivos para alegra-se com isso. O "povo" está mais interessado, mais informado.
O que questiono é: que tipo de informação a imprensa de massa está gerando? Que tipos de opinião se forma no espectador/leitor "pensante" do Brasil?
Pergunto isso porque as chamadas e reportagens que li hoje sobre o referido acordo mediado pelo Brasil eram, quase todas, em tom de crítica e/ou descrença. Assim como foram as notícias sobre a atuação brasileira no Haiti, sobre os desdobramentos do caso Batisti (ainda inconcluso) ou do caso Sean, sobre o fato de o Brasil emprestar dinheiro ao FMI e, principalmente, sobre o contencioso com os EUA na OMC.
Em todos esses casos o Brasil é tratado pela imprensa genérica e pelo brasileiro genérico (há casos de isenção e de opiniões fundamentadas) como um país pretencioso, metido a dar um passo maior do que suas pernas, ou ainda um país que se mete com questões que não lhe dizem respeito. Há, enfim, muita crítica e falta reconhecimento.
É muito impressionante que o Brasil seja hoje reconhecido pela comunidade internacional como um país-chave, um protagonista, um ator confiável e de relevância e, dentro da nossa pátria mãe gentil, seja considerado uma eterna "república de bananas".
Um país de posturas claras, de orientação precisa e independente - interna e externamente, que busca defender seus interesses e valores. Um país solidário, que luta pelo crescimento e evolução da humanidade, apesar de suas próprias dificuldades e limitações. É esse o Brasil que os brasileiros deveriam ver. O mesmo Brasil que o mundo vem olhando cada vez mais atentamente.
Mas somos a um tempo míopes e hipermétropes. Temos excesso de orgulho por coisas pequenas como o futebol e outros esportes - a melhor seleção, o melhor piloto de F-1. Somos demasiado complexados quanto à grandeza do nosso país em assuntos de suma importância, como política e economia.
Foi risível, por exemplo, como acharam tantos "brasileiros" nas Olimpíadas de Inverno. Um menino nascido em Pernambuco e adotado por suecos ainda recém-nascido, era considerado um representante brasileiro.
O "orgulho de ser brasileiro" se dá por motivos questionáveis e fúteis.
Espero apenas que essa projeção internacional do país, através, principalmente, da diplomacia presidencial, sirva para mostrar ao brasileiro que o país é mais do que samba e futebol. A despeito da ótica distorcida com que isso tudo vem sendo mostrado.