sexta-feira, outubro 24, 2008

No way situation

Tirei meu título eleitoral aos 16 anos. Pra isso, enfrentei uma fila de quase quatro horas, já que ansiava por "exercer plenamente minha cidadania". Na ocasião, esperava que meu voto ajudasse a eleger Lula presidente. Não foi o que aconteceu. Nem em 94, nem em 98.
Nesses catorze anos, minha crença e esperança na democracia diminuíram bastante. Já há algum tempo não voto com muito entusiasmo. Em algumas das últimas eleições, adotei o voto nulo em certas ocasiões sem nenhuma culpa. Se achava que nenhum dos candidatos merecia meu voto, anulava. Foi assim na disputa entre Newton Cardoso e Eliseu Resende por uma vaga no Senado, por exemplo.
Em nenhuma eleição anterior, desde 94, tive dúvidas ou indecisões - ou tinha um candidato, ou anularia meu voto. Hoje, pela primeira vez, me vejo totalmente perdida. Às vésperas do segundo turno das eleições para prefeito, não tenho a menor idéia do que fazer. Não é como anular o voto para senador, sabendo que o candidato vencedor terá vários companheiros em suas ações, deverá buscar aliados e enfrentar a oposição e que, sozinho, nada é capaz de fazer.
Com prefeito é diferente. Ele sozinho também pode pouco. Quase nada. Mas tem prerrogativas que lhes são exclusivas. Tem poder de ação muito mais amplo que um senador, um deputado, um vereador. É muito diferente quando se trata do poder executivo. Me parece quase inadimissível anular o voto nesse caso.
No entanto, não anular o voto, significa votar em uma das duas opções. Se é que podemos chamar os atuais candidatos de opções. À princípio, minha idéia é votar em Márcio Lacerda, numa tentativa de ajudar a impedir uma vitória de Leonardo Quintão. Mas e depois... como dormirei sabendo que ajudei a eleger Márcio Lacerda prefeito da cidade?
O futuro de BH parece muito negro. Pelo menos pelos próximos 4 anos. Teremos um prefeito que esteve envolvido em esquemas de caixa dois, desvio de verba, apropriação indébita... ou teremos um prefeito que, embora se esforce pra parecer humilde e nada arrogante, em muito lembra o Fernando Collor de 89, com pose de bom moço, cabelo impecável, discurso sedutor e vazio - embora com bom uso de palavras simples, que atingem o eleitor menos inclinado a pensar e interpretar.
Leonardo Quintão é, seguramente, uma opção muito pior. É pastor. As igrejas evangélicas parecem desprezar a idéia de separação dos poderes do estado e da igreja e insistem em lançar candidatos felizes em professar sua fé. Leonardo Quintão é filho de Sebastião Quintão, cuja ficha inclui inúmeros processos no Ministério do Trabalho, denúncias de nepotismo, sonegação... e por aí vai.
Márcio Lacerda tem dívidas que se nega a pagar. Inclusive com a prefeitura de Belo Horizonte. Esteve envolvido com nomes como Marcos Valério, Saulo Coelho. É desconhecido do público e teve um ganho de pontos percentuais nas pesquisas de intenção de voto, depois de ter apoio declarado do governador Aécio Neves - o que não é um bom preditivo, não e mesmo?
Enfim, estamos num mato sem cachorro, os belorizontinos. Só me resta esperar que uma epidemia de lucidez atinja os eleitores da cidade. Ao contrário do país imaginário de Saramago, um dos dois ainda seria eleito, já que só são considerados os votos válidos. Mas seria eleito com muito menos propriedade e credibilidade. Ter um desses dois governando com a corda no pescoço, é ainda melhor do que ter um desses dois simplesmente governando.

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