quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Get up, stand up!

Há algum tempo conversava com amigos sobre nossas preocupações com o jovem médio. Nossa discussão circunscrevia-se ao gosto musical e, parece-me hoje, ao jovem brasileiro. Não me lembro de termos mencionado a juventude mundial ou a juventude brasileira mas, pensando nos exemplos que nos preocupavam, todos remetem à audiência de Malhação, fãs de Restart e novelinhas da Disney, ouvintes de Justin Bibier... Enfim, jovens que conhecemos, convivemos e vemos crescer.
Pelo twitter, tenho tido acesso a informações acerca de assuntos que me interessam ou que me são necessários para a empresa a que me propus há algum tempo: ingressar no Instituto Rio Branco. Informações às quais acessava com maior dificuldade, mais esforço para buscá-las e que hoje, simplesmente adicionando o twitter de instituições e jornais à minha timeline, estão disponíveis e a apenas um clique do mouse. 
E o que tem uma coisa a ver com a outra? Bem, da mesma forma que tais informações estão disponíveis a mim, também estão a quem quer que tenha uma conta no twitter, no Facebook, que é uma maioria expressiva de... Jovens. 
O atuais eventos no Oriente Médio, nomeadamente no Egito, mostram a força potencial de tais mídias como ferramentas de mobilização social, de informação, de comunicação e de conscientização política. 
Muitas das instituições que se propõem a fazer do mundo um lugar melhor e mais justo já perceberam isso e têm utilizado tais ferramentas para espalhar suas ideias e recrutar os jovens que, em última instância, são quem pode tomar as rédeas e conduzir os rumos do planeta. São, além de tudo, quem pode trazer novas ideias e propor novas ações num mundo completamente novo e em constante mudança, o qual nós adultos, por esforçados e interessados que sejamos, não conseguimos apreender totalmente. Mesmo com contas no Twitter, Facebook, Skype, MySpace ou qualquer outra ferramenta à disposição na rede mundial.
Nós adultos tentamos entender como funcionam e como utilizar os inventos desses jovens, nos admiramos com o fato de uma revolução começar pelo twitter, arrastando milhares de jovens para a rua e, os mais espertos de nós, tentam ainda pensar como utilizar isso de forma produtiva e positiva. Porque isso só a maturidade nos dá.
Não conheço jovens ao redor do mundo. Convivo apenas com jovens brasileiros. E esses vejo adicionarem às suas timelines artitsta famosos, twitters de humor, fakes e afins. Espero que isso não seja uma amostra do que acontece no mundo e que a informação que realmente possa fazer diferença não chegue apenas terceirizada, reencaminhada por um de nós, adultos. Os levantes no O.M. me dão esperança.
Foi pelo twitter que soube do concurso de redação e vídeo do Banco Mundial, cujo tema é migração de jovens. Para participar é preciso ter entre 18 e 25 anos. O tema da migração vem preocupando diversas instituições internacionais já que o fenômeno vem ocorrendo de forma cada vez mais intensa e com motivações cada vez mais variadas - pobreza, melhores condições de trabalho, guerras e guerrilhas, política e religião, fenômenos e catástrofes naturais.
Ainda pelo twitter, soube da Cúpula da Juventude, organizada pela Anistia Internacional, que terá lugar em Berkley, na Califórnia, precedendo a reunião anual da organização. 
Esses são apenas dois exemplos de como organizações de extrema relevância para o destino da humanidade estão interessadas em ouvir os jovens e, mais do que isso, em engajá-los em sua causa. Precisamos todos que os jovens se interessem e queiram construir o mundo no qual atuarão, criarão suas famílias e viverão suas vidas. Como será esse mundo depende, e sempre dependeu, mais dos jovens do que dos adultos.
Não sei se num nível global esse esforço das instituições tem surtido efeito. Por aqui, no entanto, vejo muito pouco. E isso me preocupa. Será que o que nossos pais passaram durante a ditadura e o que nós mesmos passamos (sem precisar tanta doação e sacrifício, é verdade) durante a "década perdida" acabou por criar um ambiente propício à acomodação e ao desinteresse? Vivemos num país democrático, graças a nossos pais. Vivemos num país de moeda forte e certa estabilidade política e econômica, e de franco crescimento social, graças a nós mesmos. Seria isso motivo suficiente para os jovens pensarem que não têm nada a fazer? Estivemos tão envolvidos em nossa própria dura realidade e tão voltados a curar nossas próprias feridas, que  criamos uma geração incapaz de enxergar o mundo além das fronteiras, a não ser como objeto de desejo e cobiça para férias e intercâmbio?
Esses jovens cresceram ganhando celular aos cinco anos, discutindo sobre os lançamentos do Playstation com o filho da faxineira, comparando os aplicativos do iphone com o motorista. O jovem sai cedo da favela para trabalhar de empacotador no supermercado e depois ir ao cursinho pra tentar vestibular no fim do ano. E vai ouvindo seu ipod (ou similar) no ônibus. É verdadeiramente uma vida muito diferente da que tivemos nós que temos mais de trinta. Quem de nós não se lembra de ter de ajudar a avó a entender mais uma troca de moeda? Ou de enfrentar uma fila com o pai pra tentar comprar carne, que havia desaparecido do mercado? Ou ainda que não conhece alguém que faliu com o confisco de sua poupança?
Tudo tem efeitos colaterais, é verdade. Mas espero que o custo do desenvolvimento que finalmente estamos conseguindo (ainda incipiente, lembremos!) não seja a alienação e a indiferença. Espero que os jovens brasileiros se lembrem de que ainda há o sertão nordestino, o Haiti, o Egito, as duas Coreias, Tuvalu. E que nem tudo é Copa 2014, Olimpíada 2016 e pré-sal. Espero que adicionem a Anistia Internacional, a ONU, o Banco Mundial, TED e outros em suas timelines, ainda que o Pedreiro Online e a Real Morte sejam mais divertidos, e que o BBB não faça pensar.

Why so serious?

Pensando no tom de recrutamento e de apelo da convocação da Anistia Internacional linkada aí acima, lembrei-me desse video deveras divertido que me foi apresentado por amigos há muito tempo atrás:


Em tempo: Acabo de ler essa matéria no Observatório da Imprensa. Espero que sirva de inspiração.

Um comentário:

Hildo Jr. disse...

Confesso que ainda não tinha pensado no futuro com esses olhos... Tenho observado, com medo e consternação, o PRESENTE dessa geração e tenho tido sérios pesadelos... mas ao pensar no Brasil que eles deixariam para meus netos, ai, senti coisas esquisitas na barriga...
Muito preocupante mesmo...
Mas, e o que fazer, afinal?
Tá aí a pergunta de um milhão de Yuans!