quinta-feira, março 23, 2006

Jonas, o narcoléptico - Cap. 1

Joaquim e Lenas, dois jovens médicos integrantes da organização “Médicos sem fronteiras”, se conheceram quando trabalhavam no Oriente Médio, onde viveram por alguns anos. Casaram-se meses depois do primeiro encontro numa tenda de refugiados vítimas de um homem-bomba. Antes de completarem dois anos de casados, Lenas estava grávida.

Jonas nasceu na cidade de Gaza. Com meses de vida e muitas horas de sono, recebeu o diagnóstico de Narcolepsia. Os médicos aconselharam que fossem morar em um lugar mais calmo. Era recomendável evitar emoções fortes.

Seus pais insistiram em viver no Oriente Médio. Dois anos mais tarde, vários atentados terrorista depois e poucas horas de vigília para Jonas, não tiveram outro remédio que migrar, junto com sua cadela Intifada, para longe da Faixa de Gaza. Foram viver em Poços de Caldas, pacata cidade mineira, famosa por seus doces e terra natal de Joaquim.

Consigo levaram Hanabela: alemã, solteira, 43 anos, 92 kilos, mal falava o português. Mal falava. Jonas teve uma educação austera, sem muito afeto, sem muito contato físico, evitando despertar emoções. Tornou-se uma pessoa fria e calculista, absolutamente capaz de controlar suas emoções. Passou a infância praticamente ileso de ataques de cataplexia e adormecimentos inconvenientes.
Foi uma criança incomum. Estudou em casa, quase não chorava, só convivia com a família e Hanabela. Amizade só com a cadela Intifada.

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