quarta-feira, junho 16, 2010

O fim da evolução

Darwin foi, seguramente, um dos maiores cientistas da história da humanidade. Sua teoria da evolução das espécies, por mais escandalosa que tenha sido à época de sua publicação, mostrou-se mais e mais acertada com as descobertas científicas dos mais variados ramos.
Sem ser cientista natural ou socióloga, cheguei dia desses a uma conclusão: o mecanismo da seleção natural não funciona mais para a nossa espécie. Penso que a natureza não tem mais nenhuma ingerência sobre os caminhos evolutivos da humanidade. Tal é o avanço da tecnologia e da medicina, que dominamos os agentes naturais que suprimiam do meio os indivíduos menos aptos à vida naquela realidade específica.
Isso poderia ser uma boa coisa, já que mostra como o homem atingiu a capacidade de viver nos ambientes mais inóspitos, controlando, a seu favor, a natureza selvagem e impiedosa. Seria a prova de que, a despeito dos usos perversos das teorias darwinianas no passado -  temos em Hitler o maior exemplo disso, o homem é capaz de adaptar-se e desenvolver-se independentemente da sua etnia e suas características físicas.Seria a mostra do domínio da razão sobre o instinto e as fraquezas e limitações do corpo. Então, podemos pensar que atingimos uma evolução tal, que a razão prevalece? Podemos pensar que, nesse ponto de nossa história, é a razão e não mais o biológico, que determina essa mesma evolução?
É aí que me parece estar o paradoxo: por que esses homens, que se distinguem dos outros animais justamente por serem dotados da razão, e que usaram essa capacidade racional para dominar a natureza, estão cada vez mais irracionais?
A natureza parou de atuar sobre a seleção da nossa espécie. Se ela pudesse, hoje, agir a esse respeito, seria natural que eliminasse os menos racionais. Sobreviveriam os mais aptos que, num meio em que a racionalidade é o elemento mais importante da espécie, seriam os mais inteligentes. Os mais racionais, se tomarmos razão e inteligência como sinônimos.
Outro dia vi num carro, uma criança em pé e com a cabeça para fora do teto solar. Estava numa via em que o trânsito é intenso e rápido, e onde acidentes são comuns. O local é próximo a uma das entradas da cidade e o trânsito de caminhões e ônibus é constante.
Essa cena provocou-me uma epifania: não há mais seleção natural entre os homens. Caso contrário, o responsável por aquela criança, a pessoa que dirigia o carro, não teria sobrevivido e, menos ainda, se teria procriado.
Só de imaginar o que poderia acontecer àquela criança, que não tem nenhuma condição ainda de entender que aquele ato tão divertido é uma grave ameaça a sua integridade e sua vida... Só de imaginar as consequências de tantos outros atos igualmente estúpidos que vemos todos os dias...
Não lamento o primado da razão, apenas que ele nos tenha trazido a esse ponto em que a razão seja desnecessária para a sobrevivência da maioria. A razão de uns, a razão iluminada (na mais ampla acepção da palavra) serve hoje para garantir a vida de uma maioria ignorante, estúpida e inapta. Quais os efeitos disso sobre uma possível desaceleração da evolução humana, felizmente Darwin não verá.

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